segunda-feira, 30 de abril de 2018

De(s) graça

Abri o caderninho de recados de meu filho e lá estava o bilhetinho: Presente de dia das mães: Uma hidratação no André Cabeleireiros.
Matutei alguns dias antes de aceitar a gentileza.
Nunca combinei com salão de beleza. Fui à manicure pela primeira vez na formatura da faculdade e só fiz maquiagem profissional em meu casamento. De lá para cá - corto o cabelo.
Vai me dando aflição aquela conversa de unhas, corpo, dieta, pele... Ai, ai, ai. Se você tenta escapar precisa recorrer às revistas de vida alheia. Putz!
Tivera notícia de que o salão era elegante, o que aumentava minha palpitação.
Por outro lado, pensando bem... Então, era uma boa oportunidade. Só precisaria colocar uma roupinha básica que agradasse aos perturbadores olhos das outras clientes e ficar uns minutinhos jogando conversa fora.
Superado o temor inicial e com a esperança de cabelos saudáveis, agendei a hidratação:
- André cabeleireiros, bom dia.
- Bom dia, aqui quem fala é a Cinthia, vocês não me conhecem, só estou ligando porque, ééééé, recebi um recadinho da escola do meu filho, ééééé... É sobre a hidratação...
- Ah, sim minha flor. O presente de dia das mães da escola!
- ISSO!
- Quer marcar pra quando?
- Pode ser sábado?
- Marcadinho! Te espero coração!
Cheguei ao salão levemente acanhada e notei um estranhamento à minha presença. Anunciei meu nome e a moça não o encontrou na agenda. Era evidente que eles não estavam esperando que alguém tivesse a coragem de utilizar aquele presente e que só mandaram o papelzinho por educação. Que CHATO!
- Você tem certeza que ligou para marcar?
- Ahã.
- Vamos lá então...
Caminhamos até o lavatório e iniciamos a sessão sem muita conversa. Fiquei contando os azulejos da parede. Eram azuis com umas florzinhas marrons bem pequenas.
A mocinha foi pegando os cremes... Este aqui é de jurucu de maçarandaba, este outro é aquele que aparece na revista, esse aqui é o que a fulana da novela usa... E coloca touca de isopor, e me leva para o secador e lava e tira e estica e faz chapinha...
Depois de duas horas de tratamento e mal estar... 
Meu cabelo ficou incrível. 

Segui SEXY e confiante ao balcão.
Hora da verdade! Era preciso revelar o que me levara àquele lugar. Achei que fosse conseguir encaixar o assunto no meio do condicionador. Faltou iniciativa.
Peguei a bolsa que saltou aos olhos de todos. Havia duas moças irritantes ecostadas no pilar, de braços cruzados e cabelos amarrados no palito que miravam atônitas meus atrapalhados movimentos e registravam - sem dó – discretas oscilações. Enrosquei um pouco no zíper, abri, vasculhei e saquei o amarrotado bilhete da escola... Rápida e alinhada, deslizei-o sobre o balcão.
Após uma leitura longa e silenciosa, a atendente segurou o riso.
A menina de bochechas rosadas e olhão brilhante fez cara de limão azedo e passou o papelzinho adiante que foi de mão em mão sem nenhuma conclusão aparente. Todos repetiram a mesma ação, felizes, mas contidos, até que o dono do salão teve a audácia de esclarecer o embaraço:
- Moça? 
- Pois não.
- Parece que houve um engano.
- Como assim?
- Eu não sou o André.
- Não entendi.
- Você errou o salão.
- (Todos, menos eu) Ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha...

- Sem problemas... Eu PAGO!
Saí desconcertada e entrei no carro que estava estacionado bem embaixo da placa com o nome do cabeleireiro... Definitivamente, aquele não era o André. Vacilona!
Em casa, o Nelsinho ficou de orelhas acesas quando contei-lhe minha façanha e não comentou o meu provocante cabelo.
Foi um erro mínimo, coisa de dois quarteirões. 

Quer saber? Nada como uma batidinha rápida no cabelo depois do banho!

Nenhum comentário:

Postar um comentário