segunda-feira, 30 de abril de 2018

Guia prático para pais

Nada contra os estudiosos da área... Na verdade, sou fascinada pela psicologia, tenho um enorme respeito pela produção e contribuição que ela nos oferece, mas vamos ponderar um pouco e falar de pais para pais!
Parece que está tudo errado, mãe e pai não sabem mais nada... A crise começa no parto: tem que ser normal, ou: - Você está louca? A cesárea é muito melhor! Aí vem a neuras da amamentação. A mãe tem a obrigação de amamentar, quanto mais leituda, mais mãe ela será. Pobre daquela que precisa espremer para sair uma aguinha, certamente ela tem um defeito grave ou sofre de depressão pós parto, ou, na melhor das hipóteses, é mãe desnaturada! Afinal, a SBM garante que TODA MÃE PODE AMAMENTAR!!! ... Caso isto não aconteça, seu filho está fadado à desnutrição, atraso no desenvolvimento biopsicomotor, o que vai fazer com que ele vá mal na escola, além de estar muito mais propenso a viroses, infecção e depressão na infância. 

Quem já foi mãe sabe que é muito sereno amamentar o filho até os dois anos de idade... O neném testa vários reflexos na mama: sucção, mastigação, vômito... Fica melhor ainda quando nascem os dentes, porque aí ele pode trocar os brinquedinhos de morder pelo mamilo. Sem contar que você necessita de várias paradas ao dia para sentar-se com calma e dedicar-se àquele sereno momento. Depois vem a papinha que deve ser bem balanceada e, além destes cuidados com a alimentação, os pais devem estar atentos ao que a criança faz, assiste, aprende, também precisam brincar com os filhos, passear no parque, utilizar voz doce, conversar, explicar, nunca gritar e bater... NEM PENSAR.


Ai, ai, ai, fala sério! Uma relação tão natural quanto a de pais e filhos está se transformando em uma tragédia tensa e sem solução... Porque se alguma coisa falha - e vai falhar... PUTZ, foi culpa dos incompetentes pais.

Antigamente a preocupação era ensinar o filho a cumprimentar os adultos e não falar de boca cheia. Se desse xilique, ficava amarrado no pé da mesa e se ficasse doente tomava chá... Adequado? Talvez não, mas SEM CRISE.


Cada vez mais os pais precisam sentirem-se culpados por terem filhos, por trabalharem, por amarem, por serem pais!!! São tantos livros e programas para provar que pai e mãe são um completo fracasso e o pior, os pais gastam dinheiro com isso, o que gera a demanda do produto.


Lembro-me quando meu terceiro filho nasceu e não dormia à noite por nada. Uma amiga solidária emprestou-me um livro que prometia domar o bebezinho em um mês. Devorei aquele livro em uma única tarde na sala de espera da ginecologista. Realizei todas as tarefas propostas. Minhas mamas ardiam, os pontos da cirurgia latejavam, eu estava anêmica, minha barriga parecia uma bexiga murxa e minhas costas... travadas. Mesmo assim, fui uma aluna exemplar...


O neném deveria dormir uma hora e depois ser acordado com afagos e sorrisos. Caso ele reagisse com agressividade... um banho para acalmar. Na sequência, um pouco de leite e no momento em que que ele estivesse bem empolgado na mama, mais afagos e gracinhas, para então passá-lo para a outra mama. Marcava-se 15 minutos, não mais que isso. O mamilo, (em carne viva) deveria ser afastado da boca da criança para que ela não adormecesse, afinal, ela não poderia, em hipótese alguma dormir mamando. Se por uma infelicidade a criança embalasse um soninho gostoso durante a prazerosa mamada... Cosquinhas para acordá-la. O livro advertia a possibilidade da criança não gostar, neste caso: mais um banho relaxante para tranquilizar o rebelde recém-nascido. Era necessário manter o bebê duas horas acordado. Ele precisava desta rotina, entender como as coisas funcionam, como é a vida, enquandrar-se. Muito simples: brinque com seu filho incessantemente, converse com ele, cante para ele, sorria, chacoalhe, vire de ponta cabeça, rode, gire, sei lá, é só não deixá-lo dormir e, caso ele chore, aguente firme, mantenha a calma, vai valer a pena. O autor garantia que em uma semana tudo estaria resolvido e o suave bebezinho dormiria como um anjo a noite toda. O livro trazia uma sessão de perguntas e respostas de mães de primeira viagem, com babás e empregadas... mas nenhum anexo direcionado a mães de terceira viagem, a filhos com cólica, com adenóide hipertrófica, a uma rotina louca de leva para escola, futebol, natação, inglês, faz almoço, limpa a casa, enfim, era uma fórmula de enlouquecer.


Mesmo com estes agravantes e lacunas, segui firme em meu propósito. Briguei com o marido, estressei com os outros filhos, tranquei-me no quarto, preparei banhos e banhos relaxantes... No terceiro dia de prova, o choro que deveria durar quinze minutinhos antes de dormir, ainda eram horas de puro grito, esperneio, falta de ar, somados ao tempo de berro das outras crianças que já não suportavam aquela insana rotina.


DESISTÊNCIA! Falhei, me acabei, pirei!

Assumimos que a noite em casa era uma CRIANÇA. Muitas festas do pijama rolaram e só recebíamos visita das 00:00 às 06:00. Começamos a gritar mais com nossos filhos e isso nos deu energia para sorrirmos mais também.Em momentos de xilique colocamos música agitada, cantamos, dançamos, alopramos. Conversamos menos e agimos mais e a família foi adquirindo nosso tom. Vivemos felizes e aliviados pois, se alguma coisa der errado, é porque não tentamos acertar tanto, mas simplesmente sobreviver!

Nenhum comentário:

Postar um comentário